Para exaltar um dos mais consistentes estilos musicais
tipicamente moçambicanos, o pandza, que surgiu mesmo à porta dos anos 2000,
diversos fazedores deste gênero, desde os decanos até os pimpolhos,
apresentaram-se no palco do campo do Ferroviário da Baixa, no último sábado.
http://xigubo.com/wp-content/uploads/2016/09/pandza7.jpg
No Festival do Pandza não houve apenas música, como foi
prometido nos meios de comunicação social. Foi uma noite e manhã de
esclarecimento de “bifs”, estreia de músicas e exibição de indumentária, embora
tenha faltado a capulana, a qualidade de som e luz. Faltou também a actuação do
“casal do momento”, Mr. Bow e Liloca, da incontornável Lizha James, DJ Dilson e
Damost.
Segundo o programa desta festa musical, a abertura dos portões
dar-se-ia à partir das 12 horas, onde posteriormente os novos talentos
(cantores e DJ`s) deviam apresentar-se até às 13 horas.
O programa avança ainda que, neste período, os fãs teriam acesso
aos artistas para fotografias, porém nenhuma destas actividades foram cumpridas
porque ainda se faziam acabamentos do palco, testes de som e luz. Aliás, a má
prestação de som e luz aborreceu o público, isto já no arranque das actuações
principais.
Nas zonas circunvizinhas do campo do Ferroviário da baixa, a voz
sonante da apresentadora Eunice Andrade animava o ávido e escasso público,
estranhamente, com música angola.
Entretanto, foi um demorado compasso de espera com orações para
que não chovesse. Mesmo assim, a MC, que governou o espectáculo com DJ Júnior e
Emerson Miranda, conseguiu conter os ânimos dos amantes do pandza, interagindo
com eles de forma tão íntima como se aquele fosse mais um encontro de “Xitiki”.
A ex-bailarina da Mimae e autora das músicas “Hohlupheka” e
“Nkata”, Hadmay, teve a responsabilidade de abrir o concerto, isto, duas horas
e meia acima do horário marcado para o início do festival. Com apenas dois
números musicais, Hadmay mostrou que merecia estar naquele lugar, teve boa
presença em palco e, acima, de tudo, soube comunicar com o público.
Seguiu-se a actuação de Lloyd Kappas que, mesmo sem ter constado
do cartaz, emocionou as espectadoras. Lloyd não faz propriamente pandza, mas os
batuques característicos nas suas músicas, principalmente na “Mapira da
Laurinda” estremeceram o palco. A actuação deste cantor de Quelimane, foi
sucedida pelos gémeos Star Millions, Crizdo, Mendex e NP Alcoólica.
Enquanto DJ Júnior e Eunice Andrade interagiam com o público, de
repente, o ambiente fica cego e mudo – problemas técnicos começam a ameaçar
acabar com a festa. Ninguém estava a espera e com um “ahhhhhh…”, reagiu o
paciente público.
Em 10 minutos o som e luz foram restabelecidos e aparentemente
tudo tinha voltado ao normal, até que mais uma vez o cenário se repete durante
uma hora e meia. E ao mesmo tempo a chuva caía intensamente. O relvado do
Ferroviário da Baixa ficou as moscas – uns procuravam esconderijo e outros
optavam em voltar aos seus lares.
Resolvido o problema, a luz foca uma mulher que limpava o palco
– era Eunice Andrade que pessoalmente tentava restabelecer o laço de amizade
com o público, pedindo para que o mesmo retornasse ao relvado porque tinha
muita “coisa” no backstage. Não quero imaginar o que seria daquele festival sem
esta senhora, acho que foi a melhor e maior escolha de todas. Só errou ao
(des)informar que o miúdo esfaqueado na Josina morreu.
E como devia apenas dirigir a primeira parte do evento, deixando
a outra para o “Big Boss”, Emerson Miranda, já não se viu mais a cara da Eunice
no palco, mas o seu colega conseguiu substituí-la. Era com as duas músicas da
sua autoria que este subia ao palco para anunciar a entrada dos artistas.
A segunda parte deste evento foi marcada pelas brilhantes
actuações dos Afro Madjaha, Edú e os 4 Moz, estes últimos aproveitaram a
oportunidade para estrear duas músicas com a linhagem do hit “Tá a Bater”,
gravada com um dos decanos do Pandza, Ziqo, que teve a pior actuação de todas.
Assumo, A sua entrada foi triunfal, – Ziqo foi aplaudido muito
antes de começar a cantar. Antes de o DJ pôr play, o público pedia as músicas
“Vamos Embora”, “Dog Style” “Ma Boazuda” e “Casa Dois”, mas preferiu cantar as
que fazem parte do recente álbum “The Legend” composto por faixas “preguiçosas”
que trouxeram sono à plateia.
Ainda na actuação de Ziqo, fiquei chocado quando vi seus
acompanhantes. Questionei como pode uma criança de 10 anos estar a actuar às 3
horas da manhã? Sim, Puto Estrela fez parte da festa numa hora em que seus
amiguinhos estavam na cama. Que educação quer se dar àquele talentoso menino?
Quanta vadiagem! Curvo-me aos pais do Lacinho, o DJ mais novo de Moçambique que
toca até às 18 horas e não sabe o que é festa nocturna.
Na verdade, os momentos de intensa vibração começam,
surpreendentemente, com a entrada de Mega Júnior. O cantor inaugurou as
actuações com banda, interpretando dois números musicais que ficam guardadas da
história do pandza, “Menina” e “Ainda te quero”. Mega Jota aproveitou a ocasião
para pedir uma corrente de oração para o colega “Vovó Dele” que padece de
tuberculose.
Nesta senda, já não chovia mas o frio era de estremecer os
dentes e foi, então, que a “Rainha do Pandza”, Matilde Conjo, entrou em acção
para aquecer-nos em cima da mesa. “Só sobe na mesa quem tem talento, aproveito
dizer que perdoo à todos que falam mal de mim, ”, disse ao público no meio da
sua actuação questionando “se não falarem de mim, de quem mais vão falar?
Quem também brilhou e esclareceu assuntos foi a Lorena Nhate:
“Sou bonita ou não”?, o público respondeu que sim. Lorena terminou a sua actuação
passando a estafeta para Marlene, já que o mestre-de-cerimónias não estava em
condições, ouve-se através de fontes que estiveram nos bastidores – parece que
ignorou a advertência que diz “o álcool reduz habilidades…”.
Importa citar a performance de Denny OG, e os Xtaka Zero por
terem trazido um repertório musical que recordou os momentos mais altos daquele
estilo musical. Nestas horas, infelizmente a segurança era gasosa, o palco foi
invadido vezes sem conta. Mesmo assim, os artistas não se deixaram intimidar.
Já a entrada do cabecilha do evento e “pai” do pandza, isto
depois de Mr Kuka, infelizmente a sua actuação não teve a devida
correspondência. O público deve ter se recordado que “é melhor ir dormir no
terreno do que barraca”.
E assim, quando o ponteiro do relógio apontava 6 horas, a equipa
da Xigubo abandonava o local enquanto seguiam as actuações do DH, Melancia de
Moz, H2O e Cizer Boss.
XIGUBO
Comentários