Festival do Pandza: um espectáculo para esquecer


Para exaltar um dos mais consistentes estilos musicais tipicamente moçambicanos, o pandza, que surgiu mesmo à porta dos anos 2000, diversos fazedores deste gênero, desde os decanos até os pimpolhos, apresentaram-se no palco do campo do Ferroviário da Baixa, no último sábado.



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No Festival do Pandza não houve apenas música, como foi prometido nos meios de comunicação social. Foi uma noite e manhã de esclarecimento de “bifs”, estreia de músicas e exibição de indumentária, embora tenha faltado a capulana, a qualidade de som e luz. Faltou também a actuação do “casal do momento”, Mr. Bow e Liloca, da incontornável Lizha James, DJ Dilson e Damost.

Segundo o programa desta festa musical, a abertura dos portões dar-se-ia à partir das 12 horas, onde posteriormente os novos talentos (cantores e DJ`s) deviam apresentar-se até às 13 horas.

O programa avança ainda que, neste período, os fãs teriam acesso aos artistas para fotografias, porém nenhuma destas actividades foram cumpridas porque ainda se faziam acabamentos do palco, testes de som e luz. Aliás, a má prestação de som e luz aborreceu o público, isto já no arranque das actuações principais.

Nas zonas circunvizinhas do campo do Ferroviário da baixa, a voz sonante da apresentadora Eunice Andrade animava o ávido e escasso público, estranhamente, com música angola.

Entretanto, foi um demorado compasso de espera com orações para que não chovesse. Mesmo assim, a MC, que governou o espectáculo com DJ Júnior e Emerson Miranda, conseguiu conter os ânimos dos amantes do pandza, interagindo com eles de forma tão íntima como se aquele fosse mais um encontro de “Xitiki”.

A ex-bailarina da Mimae e autora das músicas “Hohlupheka” e “Nkata”, Hadmay, teve a responsabilidade de abrir o concerto, isto, duas horas e meia acima do horário marcado para o início do festival. Com apenas dois números musicais, Hadmay mostrou que merecia estar naquele lugar, teve boa presença em palco e, acima, de tudo, soube comunicar com o público.

Seguiu-se a actuação de Lloyd Kappas que, mesmo sem ter constado do cartaz, emocionou as espectadoras. Lloyd não faz propriamente pandza, mas os batuques característicos nas suas músicas, principalmente na “Mapira da Laurinda” estremeceram o palco. A actuação deste cantor de Quelimane, foi sucedida pelos gémeos Star Millions, Crizdo, Mendex e NP Alcoólica.

Enquanto DJ Júnior e Eunice Andrade interagiam com o público, de repente, o ambiente fica cego e mudo – problemas técnicos começam a ameaçar acabar com a festa. Ninguém estava a espera e com um “ahhhhhh…”, reagiu o paciente público.

Em 10 minutos o som e luz foram restabelecidos e aparentemente tudo tinha voltado ao normal, até que mais uma vez o cenário se repete durante uma hora e meia. E ao mesmo tempo a chuva caía intensamente. O relvado do Ferroviário da Baixa ficou as moscas – uns procuravam esconderijo e outros optavam em voltar aos seus lares.

Resolvido o problema, a luz foca uma mulher que limpava o palco – era Eunice Andrade que pessoalmente tentava restabelecer o laço de amizade com o público, pedindo para que o mesmo retornasse ao relvado porque tinha muita “coisa” no backstage. Não quero imaginar o que seria daquele festival sem esta senhora, acho que foi a melhor e maior escolha de todas. Só errou ao (des)informar que o miúdo esfaqueado na Josina morreu.

E como devia apenas dirigir a primeira parte do evento, deixando a outra para o “Big Boss”, Emerson Miranda, já não se viu mais a cara da Eunice no palco, mas o seu colega conseguiu substituí-la. Era com as duas músicas da sua autoria que este subia ao palco para anunciar a entrada dos artistas.

A segunda parte deste evento foi marcada pelas brilhantes actuações dos Afro Madjaha, Edú e os 4 Moz, estes últimos aproveitaram a oportunidade para estrear duas músicas com a linhagem do hit “Tá a Bater”, gravada com um dos decanos do Pandza, Ziqo, que teve a pior actuação de todas.

Assumo, A sua entrada foi triunfal, – Ziqo foi aplaudido muito antes de começar a cantar. Antes de o DJ pôr play, o público pedia as músicas “Vamos Embora”, “Dog Style” “Ma Boazuda” e “Casa Dois”, mas preferiu cantar as que fazem parte do recente álbum “The Legend” composto por faixas “preguiçosas” que trouxeram sono à plateia.

Ainda na actuação de Ziqo, fiquei chocado quando vi seus acompanhantes. Questionei como pode uma criança de 10 anos estar a actuar às 3 horas da manhã? Sim, Puto Estrela fez parte da festa numa hora em que seus amiguinhos estavam na cama. Que educação quer se dar àquele talentoso menino? Quanta vadiagem! Curvo-me aos pais do Lacinho, o DJ mais novo de Moçambique que toca até às 18 horas e não sabe o que é festa nocturna.

Na verdade, os momentos de intensa vibração começam, surpreendentemente, com a entrada de Mega Júnior. O cantor inaugurou as actuações com banda, interpretando dois números musicais que ficam guardadas da história do pandza, “Menina” e “Ainda te quero”. Mega Jota aproveitou a ocasião para pedir uma corrente de oração para o colega “Vovó Dele” que padece de tuberculose.

Nesta senda, já não chovia mas o frio era de estremecer os dentes e foi, então, que a “Rainha do Pandza”, Matilde Conjo, entrou em acção para aquecer-nos em cima da mesa. “Só sobe na mesa quem tem talento, aproveito dizer que perdoo à todos que falam mal de mim, ”, disse ao público no meio da sua actuação questionando “se não falarem de mim, de quem mais vão falar?

Quem também brilhou e esclareceu assuntos foi a Lorena Nhate: “Sou bonita ou não”?, o público respondeu que sim. Lorena terminou a sua actuação passando a estafeta para Marlene, já que o mestre-de-cerimónias não estava em condições, ouve-se através de fontes que estiveram nos bastidores – parece que ignorou a advertência que diz “o álcool reduz habilidades…”.

Importa citar a performance de Denny OG, e os Xtaka Zero por terem trazido um repertório musical que recordou os momentos mais altos daquele estilo musical. Nestas horas, infelizmente a segurança era gasosa, o palco foi invadido vezes sem conta. Mesmo assim, os artistas não se deixaram intimidar.

Já a entrada do cabecilha do evento e “pai” do pandza, isto depois de Mr Kuka, infelizmente a sua actuação não teve a devida correspondência. O público deve ter se recordado que “é melhor ir dormir no terreno do que barraca”.

E assim, quando o ponteiro do relógio apontava 6 horas, a equipa da Xigubo abandonava o local enquanto seguiam as actuações do DH, Melancia de Moz, H2O e Cizer Boss.




XIGUBO


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